*Por Carlos Alberto Barcellos
Bem aventurados os que educam para a resolução de conflitos. Aqueles que
criam condições de diálogo entre os diferentes, permitindo uma convivência
saudável na diversidade. Bem aventurados os que socializam para a difícil
aprendizagem de ouvir o outro lado. Felizes os que buscam a verdade na
construção de uma relação de grupo. Abençoados os que perseguem e tem fome e
sede de uma vida com significado.
Bem aventurada a instituição que educa no cotidiano para práticas pedagógicas
onde, tudo o que se passa naquela comunidade, faz parte do chamado conteúdo.
Pode ser o jeito de falar, olhar, tocar. Pode ser nossa teimosia achar que
podemos fazer melhor hoje aquilo que fizemos ontem. Melhor, pode ser aquela
conversa vital sobre gravidez na adolescência. Era um papo central naquela
aula.
Benditos mestres que superam a tentação do conteudismo, como se a sala de
aula fosse uma linha reta, desvinculada da realidade existencial das comunidades
juvenis que chegam até nós.
Somos o que fazemos com o tempo. Podemos assumir uma neutralidade enganosa
diante do conflito. Impossível ficar em cima do muro. Falamos como pensamos.
Agimos como falamos e, finalmente, somos responsáveis pelos frutos que deixamos
como herança de vida.
Escrevo essa crônica numa referência a um educador resiliente da paz. Edson
do Afroreggae ensinou lições de vida para toda a vida. A comunidade de Vigário
Geral, no Rio de Janeiro, fica perto de nossas instituições. Uma vida levada
pela cultura da barbárie e da vida banalizada que tanto denunciamos.
Uma vida deixada como semente de paz. O Afroreggae e todos os movimentos que
educam na e para a paz, compreendem o significado da palavra resiliente.
Educadores, convictos de seu mandato, estão além dos lugares sociais. Se para
alguns revela os sinais da pobreza cruel, para outros se desvela o vazio
existencial, uma vida perdida no consumismo onde, o único remédio, parece ser a
cultura da droga.
Benditos Edsons de todos os lugares a serem educados. Amados todos os que
compreendem que a cultura da violência se reverte com uma nova postura em olhar
a humanidade. Leva tempo. Precisamos aprender a arte do educador resiliente. Ela
pode estar do nosso lado nesse momento.
“Crianças não nascem, más. Crianças não nascem racistas. Crianças não nascem
hipócritas. Crianças não nascem reduzidas. Crianças não nascem preconceituosas.
Crianças nascem puras, genuínas, criativas… “
Há um novo jeito de aprender as lições de vida. A realidade é o parâmetro que
define nossa missão de mediadores e educadores da paz. Obrigado Edson pela tua
vida de entrega na comunidade de Vigário Geral, um pedaço do mundo a ser
recriado.
*Carlos Alberto Barcellos é professor da Escola Menino Deus, Escola
Solidária 2009.