Por igonorância, utilizei recentemente a palavra Anarquia de forma equivocada.
Anarquia e vandalismo são coisas diferentes!
Anarquia e vandalismo são coisas diferentes!
Com o intuito de esclarecer, já que muitos acabam cometendo o mesmo erro, segue abaixo texto explicativo.
DEFINIÇÃO DE ANARQUIA
Erico Malatesta
Anarquia é uma palavra grega que
significa literalmente "sem governo", isto é, o estado de um povo sem
uma autoridade constituída.
Antes que tal organização
começasse a ser cogitada e desejada por toda uma classe de pensadores, ou se
tornasse a meta de um movimento, que hoje é um dos fatores mais importantes do
atual conflito social, a palavra "anarquia" foi usada universalmente
para designar desordem e confusão. Ainda hoje, é adotada nesse sentido pelos
ignorantes e pelos adversários interessados em distorcer a verdade.
Não vamos entrar em discussões
filológicas, porque a questão é histórica e não filológica. A interpretação
usual da palavra não exprime o verdadeiro significado etimológico, mas deriva
dele. Tal interpretação se deve ao preconceito de que o governo é uma
necessidade na organização da vida social.
O homem como todos os seres
vivos, se adapta às condições em que vive e transmite , através de herança
cultural, seus hábitos adquiridos. Portanto, por nascer e viver na escravidão,
por ser descendente de escravos, quando começou a pensar, o homem acreditava
que a escravidão era uma condição essencial à vida. A liberdade parecia
impossível. Assim também o trabalhador foi forçado, por séculos, a depender da
boa vontade do patrão para trabalhar, isto é, para obter pão. Acostumou-se a
ter sua própria vida à disposição daqueles que possuíssem a terra e o capital.
Passou a acreditar que seu senhor era aquele que lhe dava pão, e perguntava
ingenuamente como viveria se não tivesse um patrão.
Da mesma forma, um homem cujos
membros foram atados desde o nascimento, mas que mesmo assim aprendeu a mancar,
atribui a essas ataduras sua habilidade para se mover. Na verdade, elas
diminuem e paralisam a energia muscular de seus membros.
Se acrescentarmos ao efeito
natural do hábito a educação dada pelo seu patrão, pelo padre, pelo professor,
que ensinam que o patrão e o governo são necessários; se acrescentarmos o juiz
e o policial para pressionar aqueles que pensam de outra forma, e tentam
difundir suas opiniões, entenderemos como o preconceito da utilidade e da
necessidade do patrão e do governo é estabelecido. Suponho que um médico
apresente uma teoria completa, com mil ilustrações inventadas, para persuadir o
homem com membros atados, que se libertarem suas pernas não poderá caminhar, ou
mesmo viver. O homem defenderia suas ataduras furiosamente e consideraria todos
que tentassem tirá-las inimigo.
Portanto, se considerarmos que o
governo é necessário e que sem o governo haveria desordem e confusão, é natural
e lógico, que a anarquia, que significa ausência de governo, também signifique
ausência de ordem.
Existem fatos paralelos na
história da palavra. Em épocas e países onde se considerava o governo de um
homem (monarquia) necessário, a palavra "república" (governo de
muitos) era usada exatamente como "anarquia", implicando desordem e
confusão. Traços deste significado ainda são encontrados na linguagem popular
de quase todos os países. Quando essa opinião mudar, e o público estiver
convencido de que o governo é desnecessário e extremamente prejudicial, a
palavra "anarquia", justamente por significar "sem governo"
será o mesmo que dizer "ordem natural, harmonia de necessidades e
interesses de todos, liberdade total com solidariedade total".
Portanto, estão errados aqueles
que dizem que os anarquistas escolheram mal o nome, por ser esse mal
compreendido pelas massas e levar a uma falsa interpretação. O erro vem disso e
não da palavra. A dificuldade que os anarquistas encontram para difundir suas
idéias não depende do nome que deram a si mesmos. Depende do fato de que suas
concepções se chocam com os preconceitos que as pessoas têm sobre as funções do
governo, ou o "Estado” com é chamado.
-Errico Malatesta in anarquia,
1907.
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