sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Educação Popular




Compreende-se a educação popular, fundamentada no referencial teórico-metodológico freiriano, como uma concepção de educação, realizada por meio de processos contínuos e permanentes de formação, que possui a intencionalidade de transformar a realidade a partir do protagonismo dos sujeitos. Essa coordenadoria vivencia esta concepção ao realizar ações conjuntas com educadores populares, lideranças de movimentos, redes e organizações sociais populares, como também equipes responsáveis pela implantação e controle social das políticas públicas.
Educação popular e a construção de um poder ético
 
Desde a década de vinte, mais especificamente após a semana de arte moderna e posteriormente com os manifestos da escola nova, já se falava em uma educação popular que fosse direito de todos. Mais tarde, com o governo de Juscelino Kubitschek (1956 a 1961) e de João Goulart (1961 a 1964) e o advento da industrialização no Brasil com a chegada de capital estrangeiro, a limitação da educação tornou-se um problema e passou a ser necessário instruir o povo para expandir o capital. Nesse cenário, em 1959 educadores e intelectuais lançaram um manifesto em defesa da escola pública ao entender que o desenvolvimento econômico do país se passava necessariamente pela educação, muito mais técnica, para ensinar a fazer, do que clássica para formar intelectuais.
Nesse sentido, frente a um Estado autoritário, dominante e excludente, era preciso “dar as costas” e fazer surgir uma alternativa de mudança. Foi então que a partir de 1960 surge a educação popular, idealizada pelo educador Paulo Freire, com suas primeiras iniciativas de conscientização política do povo buscando a emancipação social, cultural e política das classes menos favorecidas. Assim, a EP se dirige às vítimas de desigualdades sociais e culturais.
Nos ideais de Paulo Freire, os princípios da educação popular estão relacionados à mudança da realidade opressora, o reconhecimento, a valorização e a emancipação dos diversos sujeitos individuais e coletivos. Contudo, além da conscientização, a prática e a reflexão sobre a prática formam a categoria de organização da educação popular e são elementos básicos para a transformação. Nesse sentido, a sociedade civil organizada foi identificada como instância de promoção e sistematização da educação popular (Paiva, 1986).
A metodologia usada por Freire era dialógica. Ele realizava “círculos de cultura”, onde a alfabetização fluía a partir da “leitura de mundo” dos envolvidos, se dava de dentro para fora, através do próprio trabalho. O método fora aplicado em várias cidades pelos diversos movimentos sociais existentes na época, alfabetizou 300 trabalhadores em 45 dias. Com o impressionante resultado, o Governo Federal, representado pelo então presidente João Goulart, adotou a idéia a nível nacional. De 1963 a início de 1964 foram concretizados vários cursos de formação de coordenadores em diversos estados brasileiros para efetivarem o plano de ação que tinha por meta alfabetizar 2 milhões de alunos. Com o golpe militar em março de 1964, a campanha nacional de alfabetização foi considerada “perigosamente subversiva”. Tudo foi condenado e Paulo Freire exilado (Brandão, 1993).
Durante o regime militar, Paulo Freire foi obrigado a trabalhar fora do Brasil onde escreveu vários livros sobre educação, conscientização e liberdade. Com a anistia na década de 80, Freire retorna ao Brasil para, como ele mesmo disse, “aprender tudo de novo” e assume em 1989 a Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo, durante a administração petista de Luísa Erundina. Com esse trabalho, Freire pôde experimentar suas idéias, até então aplicadas na educação não-formal, num complexo educacional de escolas.
Vale salientar, entretanto, que na década de 1980 há uma mudança no padrão de acumulação do capital. A educação volta a ser valor indiscutível vestido de um discurso democratizador. Esse valor, da educação e do desenvolvimento, tinha se perdido na década anterior. Iniciava-se a luta por um tipo de democracia e de educação que atendesse os interesses das classes populares (Arroyo, 1986).
Mesmo com a atuação “às escondidas” dos movimentos sociais a partir de 1964 realizando as práticas de EP e mantendo vivas suas concepções pedagógicas, o novo cenário educacional brasileiro de 1980 configurava-se uma crise nos paradigmas da EP com relativa perda de força do discurso inicial da mesma, formando, ao longo da história, novos paradigmas. A revolução política, a queda do socialismo real e as mudanças ocorridas nesse período causam impactos na concepção de EP dos anos 80/90, deixando esta de ser a força maior para a revolução, de ser de classe para se tornar das classes sociais influenciadas pelas concepções gramscianas. Havia a necessidade de “ressignificar os papéis, os fins, os valores, os métodos, as dinâmicas e as relações entre sujeitos das práticas educativas” (Paludo, 2001, p. 154)
Assim, a criação da escola pública popular estava a um passo. Em São Paulo, Freire analisou a realidade e iniciou sua ação com um projeto de reforma político-pedagógica radical. Era preciso aumentar em quantidade, frente à situação real de descaso administrativo das escolas, aos salários baixos, a ausência de infra-estrutura e recursos materiais, mas também, e principalmente, era preciso melhorar em qualidade. Como em todo país, o sistema educacional passava (e passa ainda hoje) por crises institucionais e pedagógicas, de eficiência, de eficácia e de produtividade, ou seja, uma crise na qualidade.
Para reverter esse quadro em São Paulo, Freire propôs a democratização da gestão escolar com a integração escola-comunidade, a formação e profissionalização dos profissionais da educação (ele via todos os que fazem a escola como educadores) e uma reforma curricular. Freire objetivava a criação de uma escola democrática e cidadã, de comunidade e de companheirismo. Assim, os movimentos populares, a igreja e as universidades foram convidados e aceitaram aliar-se ao mutirão cívico-educativo para criar a escola pública popular.
Os princípios da EP escolar eram: produção do conhecimento pelo conceito geral de problematização; redefinição das áreas de conteúdos lançando mão da pedagogia de projetos e da interdisciplinaridade a partir de tema gerador; representação da compreensão e orientação do currículo escolar para tornar o conhecimento dinâmico e nunca encerrado; transformação das relações entre educadores e educandos na dialogicidade e na integração do conhecimento sistematizado e conhecimento popular; e a alteração do papel desempenhado, o indivíduo como autor de sua inclusão, ou seja, o protagonismo social é a atual meta da educação popular. Por essa concepção, o próprio excluído deve estar apto a buscar aquilo que lhe é de direito. Cabe ao educador popular despertar esse sentimento em sua comunidade. 
Hoje, no entanto, nos parece que a EP continua em movimento de encaixe ou de encontro com outros espaços, principalmente os formais estatais. Segundo Carlos (2005, pp. 11/12), há “atualmente na América Latina, uma tendência de ampliação do campo semântico bem como dos espaços de efetivação da EP, mesmo no seio daquelas práticas educativas centradas na ideologia da defesa dos interesses das classes populares”. Assim, a luta assumida por educadores populares na atualidade é por uma educação pública de qualidade, democrática e cidadã. Como confirma Gadotti (2000), os educadores populares que permaneceram fiéis aos princípios da EP estão atuando principalmente na educação pública popular, no espaço conquistado no interior do Estado.
Mas, a necessidade de construir uma democracia integral e uma cidadania ativa perpassa por novas práticas de exercício do poder dentro de uma cultura político-democrática (Pontual, 1998). Os valores e a ética são essenciais para a formação dessa cultura política.
Nessa perspectiva, um dos grandes desafios para a educação popular é justamente a coerência entre o discurso e a prática como exigência ética num contexto de conseqüências perversas do neoliberalismo, tanto sociais, econômicas e políticas. Para isso é preciso humildade, tolerância e esperança. 
Sobre esses aspectos, Freire também contribui significativamente. No seu livro “à sombra dessa mangueira”, ele assim se refere a nossa sociedade:
“(...) uma sociedade desafiada pela globalização da economia, pela fome, pela pobreza, pelo tradicionalismo, pela modernidade e até pós-modernidade, pelo autoritarismo, pela democracia, pela violência, pela impunidade, pelo cinismo, pela apatia, pela desesperança, mas também pela esperança”. (1995, p.59).
É nessa realidade descrita que se encontra a educação popular e o desafio de uma prática político-pedagógica dos educadores para a formação de uma cultura político-democrática e cidadã das classes populares. Nesse sentido, Freire (1995, p. 73) nos fala que “humildade e tolerância são fundamentais”. Humildade para aceitar que existem outras verdades e tolerância para aceitar e crescer na diferença.
Construir uma escola pública popular é ampliar as aspirações educacionais populares aliadas a reorientação política do nosso país, é adotar para a educação escolar um currículo pensado na população. É fazer uma escola que para Freire (1991, p. 43): “estimula o aluno a perguntar, a criticar, a criar, onde se propõe a construção do conhecimento coletivo, articulando o saber popular e o saber crítico, científico, mediado pelas experiências no mundo”. 
Concordo com Souza (1997) quando ele afirma que a perspectiva para a educação popular é a do fortalecimento dos processos pedagógicos para aumentar sua contribuição na construção dos poderes locais e globais a fim de ampliar a força cultural, fundamentar o sentido mobilizador dos valores da justiça, da solidariedade e da igualdade. Assim, haverá a construção de um poder ético em meio a uma integração social sem exclusões.
É nesse contexto atual que algumas questões sobre política social, diferenças sociais e práticas nas escolas vêm à tona e nos convidam a novas reflexões. Uma delas, por exemplo, é levantada por Henry e Roger (1994): como lidar com a diversidade e as diferenças sociais em termos intelectuais, emocionais e práticos? Eis aqui outro grande desafio para a educação popular: formar a consciência de viver democraticamente em uma sociedade plural e fazer a pedagogia crítica, levando todos a uma discussão crítica, sem cair na desesperança ou na sensação de impotência. Ou ainda mais profundo: formar a consciência de viver democraticamente em uma sociedade impregnada de exclusões, levando todos, além da discussão crítica, a uma prática inclusiva.
A educação popular ao cruzar a fronteira da escolarização, busca o resgate da cidadania e a necessidade de inclusão em todos os sentidos.
 
Referências:
ARROYO, Miguel G. (Org.) Da escola carente à escola possível. São Paulo: Loyola,  1986. (Coleção Educação Popular).
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 1981.
CARLOS, Erenildo João. Semânticas da educação popular. In.: http://www.anped.org.br/25/excedentes25/erenildojoaocarlost06.rtf [acesso 10/08/2006]
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho D’água, 1995.
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 2000.  
GIROUX, Henry e SIMON, Roger. Cultura popular e pedagogia crítica: a vida cotidiana como base para o conhecimento curricular. In.: MOREIRA, Antonio F. e SILVA, Tomaz Tadeu (Org.) Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994.
PAIVA, Vanilda. Perspectivas e dilemas da educação popular. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
PALUDO, Conceição. Educação popular em busca de alternativas: uma leitura desde o campo democrático e popular. Porto Alegre: Tomo Editorial, Camp, 2001.
PONTUAL, Pedro. A contribuição de Paulo Freire no debate sobre a refundamentação da educação popular. In,: Revista de Educação AEC. Ano 27, nº 106, Jan/Mar.
SOUZA, João Francisco. Que educação é direito de todos? In.: Revista de Educação AEC. Ano 26, nº 105. Out/Dez.
 http://www.espacoacademico.com.br/078/78barbosa.htm



ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA: Possibilidades e Limites





ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA: Possibilidades e Limites
Paulo César Carbonari

O conceito de economia popular solidária introduz uma novidade na compreensão da economia e outra na compreensão da política. Explico. Falar de economia popular solidária é ressignificar a própria economia no sentido de recuperar sua dimensão ética – flagrantemente negada pelas posições neo-clássicas de matriz liberal e de alguma forma também pelas posições marxistas ortodoxas. Mas não só, é entender o lugar da economia no processo de transformação social como exercício político, um novo lugar.
Os adjetivos popular e solidária cumprem um papel substantivo, reorientando o sentido do substantivo que qualificam.
Ao dizer economia popular podemos apenas estar nos referindo à chamada economia de sobrevivência, marginal à economia de mercado. Prefiro entender popular no sentido substantivo de uma economia centrada na busca de condições de satisfação das necessidades – sempre novas – dos seres humanos, na perspectiva do bem viver de todos e para todos. A serviço, portanto, do homem – invertendo a lógica fetichista da economia capitalista.
O solidária dá o caráter prático e recupera a igualdade como condição do exercício da liberdade, no sentido de que a realização da solidariedade implica a criação de condições históricas de igualdade no exercício da liberdade. A plenitude da liberdade, neste sentido, não se dá pela livre iniciativa individual, mas na liberdade de iniciativa solidária, como exercício público de objetivos, que deve levar em conta interesses individuais, não privatistas, passíves de ser tornados coletivos. É o exercício de redução da esfera privada e privatista pela construção de espaços públicos capazes de subsumi-la na perspectiva coletiva. Portanto, a economia popular solidária subverte o conceito funcionalista de economia e recoloca a economia no seio do mundo da vida, do mundo das relações humanas, desfazendo-a como sistema colonizador e sufocador de potencialidades. O mercado deixa de ser o agente obscuro que determina as relações sociais. Recupera-se a idéia de troca como a essência das relações econômicas – em contraposição à idéia de mercado. A economia solidária, portanto, nega o mercado como mão invisível, e afirma relações de troca.
Em termos políticos, na perspectiva de que a política é o exercício de condições para a transformação social em vista de uma vida centrada no bem viver, a economia popular solidária insere a novidade de que o exercício de novas relações produtivas não será consequência da reorganização do Estado, particularmente da burocracia governamental. Antes, implica centralmente uma profunda aposta na organização da sociedade civil. O significado disso na matriz revolucionária é fundamental. Isto porque, o processo de transformação da economia capitalista passa antes pela organização dos produtores e consumidores, do que pelo assalto ao aparelho burocrático do Estado que teria o papel de reorientar o mercado a favor deles – tese típica da ortodoxia marxista. A transformação das relações de produção passa pela organização dos produtores e consumidores, desde já, numa nova forma de relações de produção a ser exercida em novas relações de produção. Isto não significa enfraquecer a necessária resistência e crítica contundente ao modelo e à prática hegemônica. Não se trata de gerar uma dicotomia entre os trabalhadores que abdicam da greve para administrar um empreendimento econômico e os trabalhadores que fazem greve para derrubar os capitalistas. Trata-se de entender que ambas as ações são complementares e estrategicamente substantivas no sentido da construção de novas relações produtivas.
O central, portanto, em termos políticos, está em apostar na organização dos produtores e consumidores, no aperfeiçoamento da organização da sociedade civil – não para sobreviver dentro do sistema ou para arranjar o que fazer aos que já não tem lugar numa economia automatizada – para, a partir deles (os excluídos do sistema), gerar novas relações produtivas, revolucionárias. O revolucionário da organização da economia popular solidária está em mexer na estrutura produtiva, contrapondo-se ao sistema capitalista pela construção no seu seio de condições para sua superação pela organização social dos produtores e consumidores – de alguma forma recupera-se aqui todo o sentido dos socialistas utópicos, sem entendê-los ou depreciá-los em nome do socialismo científico, antes, complementando-os mutuamente. A imagem que me vem à mente é a do esforço de organização das comunas e dos ofícios no seio do feudalismo, como potencialização política da séculos depois revolução francesa. A revolução é econômica e política ao mesmo tempo – contra todos os que acreditam que antes precisa ser política para depois ser econômica.
Neste contexto, merece especial atenção o lugar do Estado. Ele passa a ter um papel fundamental. Não no sentido de planejar a atividade econômica, mas no sentido de aportar condições para que a auto-organização livre dos produtores e consumidores possa ser efetivada. Supera-se a idéia de Estado como burocracia administrativa em nome da idéia de Estado como espaço público de enfrentamento de interesses privados e privatistas, palco de busca de soluções públicas, coletivas, que venham para reduzir a voracidade individualista em nome da satisfação de todos e de cada um. Aliás, sem que a sociedade esteja organizada de maneira autônoma, qualquer ação do Estado na perspectiva da economia popular solidária deporá contra ela, destruirá suas bases pelo paternalismo – sobre isso não sobram exemplos para analisar e que em virtude da exiguidade do tempo não podemos considerar. Neste sentido, o Estado, antes de ser burocracia é sociedade organizada. À brocracia, neste contexto, cabe oferecer suporte à auto-organização, nunca patrociná-la ou substituí-la.
Um projeto de desenvolvimento popular e solidário, que antes de mais nada precisa ser autosustentável, é tarefa, portanto, de toda a sociedade, particularmente da sociedade organizada nesta perspectiva. A burocracia estatal, neste sentido tem um papel complementar e emulador. Não cabe a este ou àquele governo fazer a transformação social, cabe aos produtores e consumidores, aos agentes sociais, à cidadania organizada, promovê-la, pela construção, desde já, de novas relações, de relações populares e solidárias. A aposta está na criatividade que emerge da participação popular. Na idéia de que a garantia dos direitos é exercício coletivo da cidadania, na criação de condições históricas transformadoras do status quo, em vista do bem viver. Daí que, a economia popular solidária é o exercício de construção de uma nova cultura que suplante o padrão individualista e consumista que grassa neste fin de siécle. Como dizia Che Guevara: "Ser solidário é ser humano". É compartilhar qualquer injustiça, a qualquer ser humano, em qualquer lugar. É compartilhar o exercício paciente e permanente de construção de novas relações que sejam capazes de colocar o ser humano como fim, nunca como meio. É compartilhar a utopia de um mundo mais humano como horizonte ético, mobilizador da ação presente, e como construção presente de um horizonte estética e politicamente mais humano.
Este é o desafio que está colocado para quem não vê na economia popular solidária mais uma moda empolgante, mas uma possibilidade real, histórica de transformação das relações sociais.
O que é Economia Solidária?
Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de todos e no próprio bem.
A economia solidária vem se apresentando, nos últimos anos, como inovadora alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social. Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário.
Nesse sentido, compreende-se por economia solidária o conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizadas sob a forma de autogestão. Considerando essa concepção, a Economia Solidária possui as seguintes características:
Cooperação: existência de interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a responsabilidade solidária. Envolve diversos tipos de organização coletiva: empresas autogestionárias ou recuperadas (assumida por trabalhadores); associações comunitárias de produção; redes de produção, comercialização e consumo; grupos informais produtivos de segmentos específicos (mulheres, jovens etc.); clubes de trocas etc. Na maioria dos casos, essas organizações coletivas agregam um conjunto grande de atividades individuais e familiares.
Autogestão: os/as participantes das organizações exercitam as práticas participativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses, etc. Os apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da ação.
Dimensão Econômica: é uma das bases de motivação da agregação de esforços e recursos pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito, comercialização e consumo. Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais.
Solidariedade: O caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos resultados alcançados; nas oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades e da melhoria das condições de vida dos participantes; no compromisso com um meio ambiente saudável; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e consumidores; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Considerando essas características, a economia solidária aponta para uma nova lógica de desenvolvimento sustentável com geração de trabalho e distribuição de renda, mediante um crescimento econômico com proteção dos ecossistemas. Seus resultados econômicos, políticos e culturais são compartilhados pelos participantes, sem distinção de gênero, idade e raça. Implica na reversão da lógica capitalista ao se opor à exploração do trabalho e dos recursos naturais, considerando o ser humano na sua integralidade como sujeito e finalidade da atividade econômica.
http://www.ifil.org/rcs/biblioteca/Carbonari.htm

Notas:
1 Participação no Seminário Regional Passo Fundo de Trabalho e Economia Popular e Solidária, realizado em Passo Fundo, 01 e 02 de dezembro de 1999. Painel e Debate: A economia solidária: o que é, quais as suas possibilidades e os seus limites em economias periféricas – o caso do Brasil. Estratégias para a consolidação da economia popular solidária no projeto de desenvolvimento do Estado do RS. Trata-se de versão preliminar.
2 Mestrando em Filosofia (UFG-GO); professor de filosofia no IFIBE, Passo Fundo; educador popular junto a ONGs e Movimentos Sociais Populares; militante do MNDH; assessor do dep. fed. Padre Roque (PT-PR)

________________________
Bibliografia Consultada
1. HINKELAMMERT, F. Crítica da Razão Utópica. São Paulo: Paulinas, 1984.
2. ____________. As armas ideológicas da morte. São Paulo: Paulinas, 1983.
3. MANCE, Euclides A. A revolução das redes. Petrópolis: Vozes (no prelo).
4. OLIVEIRA, M. A. de. Ética e Economia. São Paulo: Ática, 1996.
5. SEN, Amartya. Sobre ética e economia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
6. SINGER, Paul. Globalização e Desemprego. São Paulo: Contexto, 1998.

Educação transpessoal Integral


Por uma educação transpessoal 
O diretor da Faculdade de Educação e Letras da Universidade Metodista de São Paulo, o prof. dr. Elydio dos Santos Neto, é autor do livro “Por uma educação Transpessoal”, lançado pela Editora Metodista e Editora Lucerna. Sua obra baseia-se numa nova interpretação sobre a educação escolar que aborda fatores que vão além dos questionados pela sociedade. O professor considera o aspecto espiritual como fundamental para o desenvolvimento humano.

Espaço Cidadania: O que é educação transpessoal?
Elydio dos Santos Neto: É uma proposta educacional preocupada em educar na e para a ‘inteireza’ do ser humano, isto é, preocupada em educar não apenas os aspectos racionais do ser humano, mas também outros aspectos que integram nossa condição humana, de modo especial, os aspectos relativos ao corpo, às emoções e à espiritualidade.

EC: O que quer dizer a expressão transpessoal?
Elydio: O termo transpessoal expressa uma concepção mais ampliada de ser humano, isto é, ele não se reduz ao seu ego construído na cultura e nas sociedades. É isto também, mas não só isto. Compreende que a construção do humano exige o pessoal e o transpessoal. Este transpessoal significa ‘sair de si’, de seu ego racional, e mover-se em direção aos níveis mais profundos de si mesmo; em direção aos outros seres humanos na vida interpes-soal, social e cultural; em direção à natureza, aos demais viventes e ao próprio cosmo.

EC: Quais aspectos a educação transpessoal considera?
Elydio: Como outras abordagens, a educação transpessoal considera fundamental a transmissão crítica dos conhecimentos, assim como a inserção do educando no processo de construção de conhecimentos. Entende, porém, que isto não pode limitar-se a conhecimentos de natureza apenas técnica, conceitual e que venham responder aos interesses da economia e do mercado.

EC: Qual a contribuição desse pensamento para a sociedade atual?
Elydio: Vivemos numa sociedade capitalista, que educa as pessoas para aceitarem que o sentido maior está no consumo. Eu entendo que esta sociedade precisa ser transformada. Trabalho intelectual e religação dos aspectos internos são, pois, mais uma possibilidade de ajudar o processo de transformação pessoal e favorecer o desenvolvimento de uma postura política a favor da construção de uma cultura com capacidade de justiça e solidariedade. A educação não pode fazer isto sozinha, mas pode ajudar. Isto seria uma grande contribuição à nossa sociedade.

EC: Como a educação pode transformar a vida das pessoas?
Elydio: A proposta que faço com a educação transpessoal é de educar na e para a inteireza do ser humano, ou seja, favorecer que no processo de constituir-se a si mesmo sejam integrados os diversos aspectos de nossa complexidade e, a partir daí, fortalecer o sujeito para participar do processo de transformação da sociedade. Isto pode ser feito no cotidiano da escola.

Educação em valores

Educar em valores é um ato transcendental, significa doar-se, fortalecer
a consciência, e neste contexto Moreno (2001:25) enfatiza que “[...] para poder
educar é preciso ser e viver, viver-se e desviver-se como ser pessoal diante do
próximo”.

 A didática da psicologia transpessoal na educação tem como objetivo
estimular o desenvolvimento do ser humano em seus aspectos físicos, mental,
emocional e intuitivo; favorecer a emergência de valores humanos; e
aperfeiçoar o ensino na situação de aprendizagem (Saldanha 2008:27).

 Os “recursos expressivos como dança, musica, pintura são valorizados e
integrados neste contexto, [...] como a representação do que se cria a partir do
que se vê, num exercício da função imaginativa, o qual amplia a consciência e
permite a reflexão.” E enfatiza também que a didática transpessoal é um
instrumento facilitador para todo esse processo (Saldanha, 2008:33).

É preciso despertar no educando “[...] a vocação, a olhar dentro de si
mesmo, ouvir suas vozes internas, a encontrar a própria identidade, a descobrir
o que fazer de sua vida. É a partir do próprio educando que se inicia a
aprendizagem.” E ainda acrescenta que, de acordo com Maslow é preciso
treinar o educador para que seja autêntico em seus valores, alegria e
realização (Saldanha, 2008: 122).

Para Maslow (1990:293) “... o avanço do conhecimento da vida superior
dos valores, não somente deve fazer possível uma maior compreensão, mas
também deve abrir novas possibilidades de automelhoramento, de
melhoramento da espécie humana e de todas as instituições sociais.”

 Segundo Maslow (apud Saldanha 2008:119) a “[...] meta da educação é
conduzir a pessoa à auto-realização [...] a ser plenamente humana [...] o
melhor do que se é capaz [...]”. E quando se torna um ser humano específico
desperta “[...] as próprias potencialidades e valores internos.”
O referido autor afirma que “[...] a existência dos valores é

 O autor enfatiza que todos anseiam por uma vida superior, a vida
espiritual, sendo que anseio é um potencial de todas as crianças recémnascidas,
e que esta potencialidade, se acaso se perde, se perde depois do
nascimento. E o autor aposta que “[...] a maior parte dos recém-nascidos nunca
realizarão esta potencialidade e nunca alcançarão os mais altos níveis de
motivação devido à pobreza, à exploração ao prejuízo, [...] devido à
desigualdade de oportunidades que tem no mundo atual” (Maslow, 1990:313)

 Saldanha (2008) ainda citando Maslow afirma que educação é o espaço
no qual se pode colaborar em alto grau com a profilaxia da saúde mental e da
paz no planeta, propiciando o despertar e o desenvolvimento de valores
positivos da natureza humana e contribuindo para seres humanos melhores, e
assim, para uma sociedade melhor.

 A integração entre o sentir e o pensar permite ao educador restabelecer
a integridade humana colaborando para a “[...] construção do ser humano como
sede da inteireza, onde pensamento, ação e emoção estejam em diálogo
permanente” (Moraes & De La Torre, 2004:68).

 Para Maturana (apud Moraes & De La Torre 2004:67) “[...] educar é
configurar um espaço de convivência, é criar circunstâncias que permitam o
enriquecimento da capacidade de ação e reflexão do ser aprendente. É criar
condições de formação do ser humano para que se desenvolva em parceria
com outros seres, para que aprenda a viver/conviver e afrontar o seu próprio
destino, cumprindo a finalidade de sua existência”.

Ele acrescenta que educar é “[...] desenvolver-se na biologia do amor
[...] na aceitação de si mesmo e do outro em seu legitimo outro [...]” e também
que “[...] o amor é a emoção fundamental que sustenta as relações sociais, ou
seja, a aceitação do outro em seu legítimo outro. É a emoção que amplia a
aceitação de si mesmo e do outro e, [...] somente o amor expande as
possibilidades de um operar mais inteligente” (apud Moraes & De La Torre,
2004:67).

Maturana enfatiza que aprender “[...] implica em transformar-se em
coerência com o emocionar”. E que “[...] a tarefa educativa solida somente
pode realizar-se através do amor, quando priorizamos a formação do ser, tendo
como foco de atenção principal o seu fazer [...]” e entende que “[...]
potencializando o fazer, estaremos simultaneamente potencializando o ser.
Convidando-o a refletir sobre sua ação, estaremos fazendo com que ele
desenvolva a sua autonomia, sua criatividade e consciência critica” (p. 68).
Esclarece que educar é “[...] formar seres humanos para o presente [...]
seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar, seres
capazes de pensar tudo o que é preciso como um ato responsável a partir de
sua consciência social.” E afirma que adultos só podem ser assim se “[...] não
crescerem alienados, se crescerem no respeito por si mesmo e pelo outro,
capazes de aprender qualquer atividade porque sua identidade não está na
atividade, mas em seu ser humano” (Maturana, 2008:10).

 De acordo com Maslow (1990:135) os valores do ser são:

Verdade: honestidade, realidade, sinceridade, simplicidade, riqueza,
essencialidade, dever ser, plenitude;
Bondade: retidão, desejo, dever ser, justiça, benevolência, honestidade;
Beleza: retidão, forma, vitalidade, simplicidade, riqueza, plenitude,
perfeição, culminação, unicidade, honestidade;
Plenitude: unidade, integração, tendência à união, inter-relação,
simplicidade, organização, estrutura, ordem não dissociada, sinergia;
Vitalidade: processo, vivacidade, espontaneidade, auto-regulação,
funcionamento pleno, mudança e permanência simultâneas, autoexpressão;
Unicidade: idiossancrisia, individualidade, incomparabilidade, novidade,
particularidade, peculiaridade;
Perfeição: nada é supérfluo, nada falta, tudo está no lugar adequado, é
imemorável, justiça, adequação, terminação, nada mais além, dever ser;
Culminação: terminação, finalidade, justiça, cumprimento, nada falta,
totalidade, cumprimento do destino, clímax, consumação;
Justiça: imparcialidade dever ser, adequação, qualidade arquitetônica,
necessidade, inevitabilidade, desinteresse, imparcialidade; ordem;
Simplicidade: honestidade, desnudes, essencialidade, certeza abstrata,
estrutura essencial e medular;
Riqueza: diferenciação, complexidade, complicação, totalidade, nada
perdido nem escondido, todo presente;
Facilidade: suavidade, ausência de luta, de esforço, de dificuldade,
graça, funcionamento perfeito e belo;
Diversão: alegria, recreação, jovialidade, humor, exuberância, facilidade;
e Auto-suficiência: autonomia, independência, não necessitar nada que
não seja único, autodeterminação, transcendência do ambiente,
separação, viver de acordo com as próprias normas, identidade.

Para ele, “[...] não só se supõe que o lugar dos valores é natural, senão
também o é o processo para descobri-los. Tem que ser descobertos mediante
o esforço humano e mediante a cognição humana, apelando às provas
experimentais, clínicas e filosóficas dos seres humanos. Aqui não está
envolvido nenhum poder que não seja o humano” (Maslow, 1990:150).

 Fontes:
 htthttp://www.alubrat.org.br/img/File/trabalhos/Educar_Valores_Abordagem_Transpessoal.pdfp://www.metodista.br/cidadania/numero-34/por-uma-educacao-transpessoal/