Por uma educação
transpessoal
O diretor da Faculdade de
Educação e Letras da Universidade Metodista de São Paulo, o prof. dr. Elydio
dos Santos Neto, é autor do livro “Por uma educação Transpessoal”, lançado pela
Editora Metodista e Editora Lucerna. Sua obra baseia-se numa nova interpretação
sobre a educação escolar que aborda fatores que vão além dos questionados pela
sociedade. O professor considera o aspecto espiritual como fundamental para o
desenvolvimento humano.
Espaço Cidadania: O que é
educação transpessoal?
Elydio dos Santos Neto: É
uma proposta educacional preocupada em educar na e para a ‘inteireza’ do ser
humano, isto é, preocupada em educar não apenas os aspectos racionais do ser
humano, mas também outros aspectos que integram nossa condição humana, de modo
especial, os aspectos relativos ao corpo, às emoções e à espiritualidade.
EC: O que quer dizer a
expressão transpessoal?
Elydio: O termo transpessoal
expressa uma concepção mais ampliada de ser humano, isto é, ele não se reduz ao
seu ego construído na cultura e nas sociedades. É isto também, mas não só isto.
Compreende que a construção do humano exige o pessoal e o transpessoal. Este
transpessoal significa ‘sair de si’, de seu ego racional, e mover-se em direção
aos níveis mais profundos de si mesmo; em direção aos outros seres humanos na
vida interpes-soal, social e cultural; em direção à natureza, aos demais
viventes e ao próprio cosmo.
EC: Quais aspectos a
educação transpessoal considera?
Elydio: Como outras
abordagens, a educação transpessoal considera fundamental a transmissão crítica
dos conhecimentos, assim como a inserção do educando no processo de construção
de conhecimentos. Entende, porém, que isto não pode limitar-se a conhecimentos
de natureza apenas técnica, conceitual e que venham responder aos interesses da
economia e do mercado.
EC: Qual a contribuição
desse pensamento para a sociedade atual?
Elydio: Vivemos numa
sociedade capitalista, que educa as pessoas para aceitarem que o sentido maior
está no consumo. Eu entendo que esta sociedade precisa ser transformada.
Trabalho intelectual e religação dos aspectos internos são, pois, mais uma
possibilidade de ajudar o processo de transformação pessoal e favorecer o
desenvolvimento de uma postura política a favor da construção de uma cultura
com capacidade de justiça e solidariedade. A educação não pode fazer isto
sozinha, mas pode ajudar. Isto seria uma grande contribuição à nossa sociedade.
EC: Como a educação pode
transformar a vida das pessoas?
Elydio: A proposta que faço
com a educação transpessoal é de educar na e para a inteireza do ser humano, ou
seja, favorecer que no processo de constituir-se a si mesmo sejam integrados os
diversos aspectos de nossa complexidade e, a partir daí, fortalecer o sujeito
para participar do processo de transformação da sociedade. Isto pode ser feito
no cotidiano da escola.
Educação em valores
Educar em valores é um ato
transcendental, significa doar-se, fortalecer
a consciência, e neste
contexto Moreno (2001:25) enfatiza que “[...] para poder
educar é preciso ser e
viver, viver-se e desviver-se como ser pessoal diante do
próximo”.
A didática da
psicologia transpessoal na educação tem como objetivo
estimular o desenvolvimento
do ser humano em seus aspectos físicos, mental,
emocional e intuitivo;
favorecer a emergência de valores humanos; e
aperfeiçoar o ensino na
situação de aprendizagem (Saldanha 2008:27).
Os “recursos
expressivos como dança, musica, pintura são valorizados e
integrados neste contexto,
[...] como a representação do que se cria a partir do
que se vê, num exercício da
função imaginativa, o qual amplia a consciência e
permite a reflexão.” E
enfatiza também que a didática transpessoal é um
instrumento facilitador para
todo esse processo (Saldanha, 2008:33).
É preciso despertar no
educando “[...] a vocação, a olhar dentro de si
mesmo, ouvir suas vozes
internas, a encontrar a própria identidade, a descobrir
o que fazer de sua vida. É a
partir do próprio educando que se inicia a
aprendizagem.” E ainda
acrescenta que, de acordo com Maslow é preciso
treinar o educador para que
seja autêntico em seus valores, alegria e
realização (Saldanha, 2008:
122).
Para Maslow (1990:293) “...
o avanço do conhecimento da vida superior
dos valores, não somente
deve fazer possível uma maior compreensão, mas
também deve abrir novas
possibilidades de automelhoramento, de
melhoramento da espécie
humana e de todas as instituições sociais.”
Segundo Maslow (apud
Saldanha 2008:119) a “[...] meta da educação é
conduzir a pessoa à
auto-realização [...] a ser plenamente humana [...] o
melhor do que se é capaz
[...]”. E quando se torna um ser humano específico
desperta “[...] as próprias
potencialidades e valores internos.”
O referido autor afirma que
“[...] a existência dos valores é
O autor enfatiza que
todos anseiam por uma vida superior, a vida
espiritual, sendo que anseio
é um potencial de todas as crianças recémnascidas,
e que esta potencialidade,
se acaso se perde, se perde depois do
nascimento. E o autor aposta
que “[...] a maior parte dos recém-nascidos nunca
realizarão esta
potencialidade e nunca alcançarão os mais altos níveis de
motivação devido à pobreza,
à exploração ao prejuízo, [...] devido à
desigualdade de
oportunidades que tem no mundo atual” (Maslow, 1990:313)
Saldanha (2008) ainda
citando Maslow afirma que educação é o espaço
no qual se pode colaborar em
alto grau com a profilaxia da saúde mental e da
paz no planeta, propiciando
o despertar e o desenvolvimento de valores
positivos da natureza humana
e contribuindo para seres humanos melhores, e
assim, para uma sociedade
melhor.
A integração entre o
sentir e o pensar permite ao educador restabelecer
a integridade humana
colaborando para a “[...] construção do ser humano como
sede da inteireza, onde
pensamento, ação e emoção estejam em diálogo
permanente” (Moraes & De
La Torre, 2004:68).
Para Maturana (apud
Moraes & De La Torre 2004:67) “[...] educar é
configurar um espaço de
convivência, é criar circunstâncias que permitam o
enriquecimento da capacidade
de ação e reflexão do ser aprendente. É criar
condições de formação do ser
humano para que se desenvolva em parceria
com outros seres, para que
aprenda a viver/conviver e afrontar o seu próprio
destino, cumprindo a
finalidade de sua existência”.
Ele acrescenta que educar é
“[...] desenvolver-se na biologia do amor
[...] na aceitação de si
mesmo e do outro em seu legitimo outro [...]” e também
que “[...] o amor é a emoção
fundamental que sustenta as relações sociais, ou
seja, a aceitação do outro
em seu legítimo outro. É a emoção que amplia a
aceitação de si mesmo e do
outro e, [...] somente o amor expande as
possibilidades de um operar
mais inteligente” (apud Moraes & De La Torre,
2004:67).
Maturana enfatiza que
aprender “[...] implica em transformar-se em
coerência com o emocionar”.
E que “[...] a tarefa educativa solida somente
pode realizar-se através do
amor, quando priorizamos a formação do ser, tendo
como foco de atenção
principal o seu fazer [...]” e entende que “[...]
potencializando o fazer,
estaremos simultaneamente potencializando o ser.
Convidando-o a refletir
sobre sua ação, estaremos fazendo com que ele
desenvolva a sua autonomia,
sua criatividade e consciência critica” (p. 68).
Esclarece que educar é
“[...] formar seres humanos para o presente [...]
seres nos quais qualquer
outro ser humano possa confiar e respeitar, seres
capazes de pensar tudo o que
é preciso como um ato responsável a partir de
sua consciência social.” E
afirma que adultos só podem ser assim se “[...] não
crescerem alienados, se crescerem
no respeito por si mesmo e pelo outro,
capazes de aprender qualquer
atividade porque sua identidade não está na
atividade, mas em seu ser
humano” (Maturana, 2008:10).
De acordo com Maslow
(1990:135) os valores do ser são:
Verdade: honestidade, realidade,
sinceridade, simplicidade, riqueza,
essencialidade, dever ser,
plenitude;
Bondade: retidão, desejo,
dever ser, justiça, benevolência, honestidade;
Beleza: retidão, forma,
vitalidade, simplicidade, riqueza, plenitude,
perfeição, culminação, unicidade,
honestidade;
Plenitude: unidade,
integração, tendência à união, inter-relação,
simplicidade, organização,
estrutura, ordem não dissociada, sinergia;
Vitalidade: processo,
vivacidade, espontaneidade, auto-regulação,
funcionamento pleno, mudança
e permanência simultâneas, autoexpressão;
Unicidade: idiossancrisia,
individualidade, incomparabilidade, novidade,
particularidade,
peculiaridade;
Perfeição: nada é supérfluo,
nada falta, tudo está no lugar adequado, é
imemorável, justiça,
adequação, terminação, nada mais além, dever ser;
Culminação: terminação,
finalidade, justiça, cumprimento, nada falta,
totalidade, cumprimento do
destino, clímax, consumação;
Justiça: imparcialidade
dever ser, adequação, qualidade arquitetônica,
necessidade,
inevitabilidade, desinteresse, imparcialidade; ordem;
Simplicidade: honestidade,
desnudes, essencialidade, certeza abstrata,
estrutura essencial e
medular;
Riqueza: diferenciação,
complexidade, complicação, totalidade, nada
perdido nem escondido, todo
presente;
Facilidade: suavidade,
ausência de luta, de esforço, de dificuldade,
graça, funcionamento
perfeito e belo;
Diversão: alegria,
recreação, jovialidade, humor, exuberância, facilidade;
e Auto-suficiência:
autonomia, independência, não necessitar nada que
não seja único,
autodeterminação, transcendência do ambiente,
separação, viver de acordo
com as próprias normas, identidade.
Para ele, “[...] não só se
supõe que o lugar dos valores é natural, senão
também o é o processo para
descobri-los. Tem que ser descobertos mediante
o esforço humano e mediante
a cognição humana, apelando às provas
experimentais, clínicas e
filosóficas dos seres humanos. Aqui não está
envolvido nenhum poder que
não seja o humano” (Maslow, 1990:150).
Fontes:
htthttp://www.alubrat.org.br/img/File/trabalhos/Educar_Valores_Abordagem_Transpessoal.pdfp://www.metodista.br/cidadania/numero-34/por-uma-educacao-transpessoal/
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